domingo, 28 de novembro de 2010

QUEM SÃO OS XUKURU DO ORORUBÁ?



Os Xukuru, com uma população atual de cerca de 3.500 índios, vivem na Serra do Ororubá, numa área de 26.980 hectares, no município de Pesqueira.

De acordo com vários pesquisadores, o nome da serra Ororubá possui diversas origens e significados: seria uma corruptela de uru-ybá – fruta dos urus, onomatopaico de várias pequenas perdizes; viria de "orouba", uma palavra oriunda do cariri; seria de origem tupi, vindo de uru-ubá – fruta do pássaro ou ser corruptela de arara-ubá ou, ainda, poderia dizer respeito à expressão designativa da primeira tribo tapuia-cariri localizada na serra.

Sua presença na Serra do Ororubá, vem desde a época da colonização portuguesa, como o comprovam alguns documentos. Provavelmente nunca tenham se afastado do local.

Em 1879, como aconteceu com outras aldeias que ainda sobreviviam à invasão do seu território, houve a extinção da aldeia Xukuru pelo Governo. O grupo passou então a sobreviver vagando pela serra.

Foram alvo de perseguições, como a proibição de seus ritos religiosos e da prática do uso de ervas medicinais para curar suas doenças. Porém, a indefinição de seus limites territoriais foi, no entanto, o que mais afetou a existência do grupo. Seu território foi demarcado em 1995, mas o processo de regularização fundiária ainda não foi concluído, ocasionando muitos conflitos pela posse da terra.

Os remanescentes Xukuru que sobreviveram ao processo de perseguições sistemáticas e expropriação de suas terras conservaram poucos traços étnicos e culturais. O toré é dançado em poucas ocasiões, não falam mais sua língua nativa, salvo algumas palavras ainda conhecidas pelos mais velhos como, lombri= água; lomba=terra; clariu= estrela; amum= farinha; echalá= fava; maiu= panela; xigó = milho; chrichaú= feijão; memengo= bode, entre outras.

O grupo está distribuído em 18 aldeias: São José, Afeto, Gitó, Brejinho, Canabrava, Courodanta, Bentevi, Lagoa, Santana, Caípe, Caetano, Caldeirão, Pé de Serra, Oiti, Pendurado, Boa Vista, Cimbres e Guarda.

Cada aldeia é constituída por um grupo de famílias, habitando cada uma na sua casa. Toda a aldeia possui um representante, que leva os problemas da sua comunidade para o cacique, que é o representante dos Xukuru como um todo.

Vivem, essencialmente, da agricultura de subsistência, horticultura, fruticultura e do artesanato de bordados de renascença feitos pelas mulheres da tribo.

As principais culturas são milho, feijão, fava e a mandioca, porém o que garante a sobrevivência dos índios é a fava, por ser de custo mais baixo que o feijão, sendo colhida durante todo o verão.

Os Xukuru revivem, anualmente, suas tradições mítico-religiosas por ocasião das festas de Nossa Senhora das Montanhas e de São José. Apesar de não serem festas indígenas, servem de motivo para que os índios revivam costumes próprios da sua cultura, através das danças, cantigas em dialeto misturado com português e o cultivo das lendas sobre a tribo, como a que diz: "Nos tempos dos índios inocentes, encontraram a imagem de Nossa Senhora num tronco de jucá, os padres levaram, então, a Santa para a igreja, mas a santa voltou para o tronco de Jucá".

Segundo dizem, é neste local que se realiza o ritual dos caboclos: os homens, vestidos com trajes de palha de milho, com flautas e bastões, dançam no local durante toda a noite.


FONTES CONSULTADAS:

AS COMUNIDADES indígenas de Pernambuco. Recife: Instituto de Desenvolvimento de Pernambuco-Condepe, 1981.

SÁ, Marilena Araújo de. "Yaathe" é a resistência dos Fulni-ô. Revista do Conselho Estadual de Cultura, Recife, Ed. especial, p.48-54, 2002.

SOUZA, Vânia Rocha Fialho de Paiva e. As fronteiras do ser Xukuru. Recife: Fundaj. Ed. Massangana, 1998.

(Texto atualizado em 30 de janeiro de 2008)


quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Quem são os Yanomamis?

Visitantes de outras aldeias se preparam para a entrada na maloca onde se realizou a Quarta Assembleia da Hutukara Associação Yanomami, em Toototobi (AM)

Visitantes de outras aldeias se preparam para a entrada na maloca onde se realizou a Quarta Assembleia da Hutukara
Associação Yanomami, em Toototobi (AM)

DO SITE FOLHA.COM


21/11/2010 - 08h00 -Por MARCELO LEITE



Divulgação Edson Sato/Hutukara Associação Yanomami


Os primeiros contatos sistemáticos de brancos com ianomâmis, em território brasileiro, aconteceram nos anos 1940. Antes disso, só se conheciam as informações coletadas por viajantes como o etnógrafo alemão Theodor Koch-Grünberg, que travou contato com os ianomâmis em 1911-1913 e escreveu sobre suas guerras com a etnia dos iecuanas, e os relatos esporádicos de seringueiros, castanheiros e piaçabeiros que topavam acidentalmente com aqueles índios nômades, falantes de uma língua desconhecida e temidos por povos vizinhos como poderosos guerreiros e feiticieiros. Militares da Comissão Brasileira de Demarcação de Limites (CBDL) percorrem várias vezes as montanhas que servem como divisor de águas entre as bacias do Orenoco e do Amazonas, entre 1938 e 1945, com a missão de fixar a fronteira entre Brasil e Venezuela.

Foi o início de uma demanda irreprimível dos índios por objetos de metal, como machados e terçados. E foi também o início de uma fabulação ambígua sobre os ianomâmis, em que se misturam imagens de um povo idilicamente isolado, ainda chamado de "guaharibos", com as de grupos violentos e vingativos. Imbuído do positivismo benevolente que o futuro marechal Rondon imprimiria ao Serviço de Proteção ao Índio, Rubens Nelson Alves relata a expedição de 1942-1943 à região do rio Mucajaí como emissária do mundo civilizado, portadora de paz e amizade para "um grande império silvícola". Dois anos antes no Demini, porém, um acampamento de base da CBDL sofrera um ataque dos ianomâmis, com vários feridos.

Na década seguinte começou um fluxo mais ordenado dos "napë" (brancos) para os platôs e sopés de serras como Imeri, que abriga o pico da Neblina (2.994 m). Atraídos pela condição "intocada" dos ianomâmis, missionários católicos e protestantes passaram a instalar-se no local, acompanhados de linguistas e antropólogos para auxiliar no aprendizado das línguas locais. Atendimento de saúde, alfabetização e catequese formavam o tripé da máquina de boas intenções, que tampouco dispensava facões e espelhinhos.

Mas "napë", para ianomâmis, em geral quer dizer mesmo garimpeiros. É deles a face mais odiosa do contato com a "civilização", um tsunami de mortes por gripe, sarampo, rubéola e malária, além de massacres. Poderia ter extinguido os ianomâmis a partir da década de 1970, quando pereceram em apenas três anos 13% da população da etnia no Brasil, não fosse a capacidade de adaptação de alguns líderes, como Kopenawa e seu sogro, Lourival.

Dois livros recentes recontam essa história. "La Chute du Ciel - Paroles d'un Chaman Yanomami" (A Queda do Céu - Palavras de um Xamã Ianomâmi, editora Plon, 2010; em português, sairá pela Companhia das Letras em 2011) a apresenta do ponto de vista do xamã Davi Kopenawa, cujas palavras foram coletadas pelo antropólogo Bruce Albert ao longo de 35 anos de convívio. Menos envolvido, mas não menos simpático à causa indígena, é "Les Yanomami du Brésil - Géographie d'un Territoire Amérindien" (Os Ianomâmis do Brasil, Geografia de um Território Ameríndio, editora Belin, 2010).

Ambos formam um contraponto atual para a antiga visão que fazia dos ianomâmis um "povo feroz", dedicado a guerras, vinganças e infanticídio, que teve como principal propagador o americano Napoleon Chagnon."Yanomamö - The Fierce People", aliás, era o título da etnografia que esse controverso antropólogo publicou em 1968. Mais à frente, Chagnon foi acusado de envolver-se em pesquisas de vacinas com os índios, sem o devido consentimento.

Antes de Albert, o antropólogo de escola francesa mais próximo de ianomâmis foi Jacques Lizot, que descreveu em 1976, no livro "Le Cercle des Feux" ("O Círculo dos Fogos", editora Martins Fontes, 1988), os costumes da etnia. Mas Lizot foi depois acusado de pedofilia. Exposições mais detalhadas desse capítulo antropológico nada edificante protagonizado por Chagnon e Lizot podem ser encontradas no livro "Trevas no Eldorado", de Patrick Tierney (Ediouro, 2002) e no documentário "Secrets of the Tribe" (Segredos da Tribo), que José Padilha fez para a BBC em 2009.

MASSACRE Como missionários, antropólogos e outros "napë", os garimpeiros atraem os índios com presentes. Depois de obter acesso aos veios de interesse, como depósitos de cassiterita (minério de estanho) e ouro na região de Surucucu, o suprimento começa a minguar e pode terminar cortado.

Irados, os ianomâmis acabam por revidar o que tomam por ofensas. Deflagram uma guerra em que serão fatalmente derrotados. Isso ficou evidente com o famoso massacre de Haximu (1993), que acarretou a morte de 16 indígenas, na maioria mulheres, crianças e velhos, após o assassinato de um garimpeiro. O drama oculto do extermínio ianomâmi, que se desenrolava no recôndito da selva amazônica, ganha repercussão mundial. O relato mais detalhado dos eventos aparece em artigo de Bruce Albert publicado pela Folha em 3 de outubro de 1993.

Como diria Kopenawa, não adiante brigar com "napë". Eles têm armas de fogo, tratores e o próprio fogo como aliados, na hora de derrubar a mata. Na frente de devastação, em Roraima, Amazonas e Venezuela, os brancos podem encontrar-se em minoria, mas há muito mais deles, nas grandes cidades, do que todos os 33 mil ianomâmis juntos, brasileiros e venezuelanos. Como gafanhotos, nunca faltarão garimpeiros.

Mas Haximu foi também um anticlímax para os não índios, que um ano antes do massacre tinham presenciado uma vitória importante dos ianomâmis em Brasília: a homologação dos 96.650 km2 da Terra Indígena Yanomami, assinada pelo presidente Fernando Collor pouco antes da Eco-92, no Rio. Um território maior que Portugal, de propriedade da União e reservado para usufruto exclusivo de cerca de 17 mil ianomâmis (os outros 16 mil vivem do lado venezuelano).

Era o objetivo por que lutara nos 15 anos anteriores a Comissão pela Criação do Parque Yanomami (CCPY), uma ONG fundada entre outros pela fotógrafa Claudia Andujar, que conseguiu o apoio de personalidades como o senador Severo Gomes (PMDB-SP). À sua sombra cresce também a liderança de um jovem ianomâmi, funcionário da Funai batizado e alfabetizado por missionários: David Kopenawa.

PERIMETRAL NORTE Curioso sobre os costumes do brancos, Kopenawa emprega-se como intérprete dos brancos mobilizados para construir um trecho da rodovia Perimetral Norte (BR-210), a partir de 1973, da cidade de Caracaraí até a Missão Catrimani, já em território ianomâmi, e daí até o posto da Funai Demini. Peça-chave do Plano de Integração Nacional do governo militar, a maior parte da estrada acabou abandonada e tomada pela selva. Com pouco mais de 20 anos, o jovem se torna depois chefe do posto Demini, no km 211 da Perimetral.

Bruce Albert conta em seu livro que Lourival, líder de uma comunidade ianomâmi com história problemática de migrações e conflitos com brancos, vê aí a oportunidade de ganhar acesso descomplicado às mercadorias úteis dos "napë", sobretudo utensílios de metal como machados e facões Aproxima seu povo do posto e acaba por fixá-lo na aldeia Watoriki, em 1993. No processo, casa uma filha com Kopenawa e o inicia nas artes do xamanismo. Consegue, com isso, obter o que lhe interessa dos brancos, por um intermediário alfabetizado e versado nos costumes dos brancos, sem ter de brigar com eles. Depois de Kopenawa, a nova geração ianomâmi amplifica o uso da escolarização como meio de fazer a etnologia dos "napë", assimilando seus códigos para defender os próprios interesses de modo mais eficaz.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Democracia xamânica

Em cinco línguas, a algaravia da política ianomâmi


RESUMO

Em sete dias de assembleia e eleições na comunidade de Toototobi, no Estado do Amazonas, Davi Kopenawa foi reeleito líder da associação Hutukara, que representa os interesses dos índios ianomâmis. Debates entre líderes e eleitores e negociações com o Estado brasileiro apontam o domínio dos ianomâmis sobre as artes da costura política.


MARCELO LEITE

Após sete dias de debates e discursos, com tradução nada simultânea nas quatro línguas ianomâmis e em português, aproxima-se o ponto alto da quarta assembleia da associação Hutukara: eleição da nova diretoria. Liderada por Davi Kopenawa Yanomami, 54, e seu filho Dário, 28, a composição atual se candidata à reeleição depois de dois anos de mandato. No centro da maloca, construída para a reunião de várias aldeias na antiga comunidade de Toototobi (no AM, perto da divisa com RR), organiza-se uma fileira de candidatos de oposição para cada posto, cara a cara com os adversários.
São 15h40 de domingo, 7 de novembro, sétimo e último dia da assembleia. Pergunto a Marcos Wesley de Oliveira, do Instituto Socioambiental, há 13 anos educador entre os ianomâmis e meu guia etnológico em Toototobi, se alguém se apresentará para concorrer com Kopenawa. O líder fundou a associação formada só por indígenas em 2004, no vácuo deixado pela extinção do convênio que o Ministério da Saúde mantinha com a organização Urihi, encarregada da assistência médica aos ianomâmis, por sua vez derivada de outra ONG de brancos, a CCPY (Comissão pela Criação do Parque Yanomami, depois Comissão Pró-Yanomami). [Leia mais em folha.com/ilustrissima]
O CARA Kopenawa preside a Hutukara desde sua criação e é obviamente "o cara" em Toototobi, como diriam Lula e Obama. Por isso, o guia Oliveira diz achar que ninguém se arriscaria a enfrentá-lo, mas os ianomâmis o surpreendem mais uma vez.
Gilberto, um desconhecido três décadas mais moço, perfila-se diante do líder que já ganhou o Prêmio Global 500 da ONU e correu mundo em defesa de seu povo. O jovem transpira irreverência e ambição. Seu oponente parece aferroá-lo com os olhos, fazendo justiça ao nome do meio, Kopenawa, que significa "marimbondo". Mas parece mais forte a atra ção exercida sobre Gilberto pela vida glamourosa de Dário e os outros jovens diretores da associação, que vivem em Boa Vista (RR), sede da Hutukara, e compõem a elite de professores de educação em língua indígena cultivada por Kopenawa para receber o bastão e assumir a defesa dos interesses de seu povo diante do Estado.
Democracia é uma arte dos brancos, e Kopenawa aprendeu algumas coisas com eles, "napë pë" (coletivo de "napë", ou não ianomâmi). Não adianta brigar com "napë", ensina. Se brigar, não consegue nada. Em lugar de flechas e bordunas, palavras.
"O presidente [da associação Hutukara] tem de falar forte com os políticos. Vocês não têm medo?" -vocifera Kopenawa. Não é coisa para crianças, explica, mas para "pata", os mais velhos e sábios. Tem de andar pelo Brasil, pela Europa, falar com "napë" como representante do povo ianomâmi. Tem que ser valente, guerreiro.
FASCÍNIO O correligionário Alfredo cobre outros flancos : "Vocês vão ter de ficar longe de suas mulheres. Mexer em computador. Seus velhos vão ficar com muita saudade". Micros, assim como filmadoras e máquinas fotográficas, exercem evidente fascínio sobre os índios, mas são poucos e jovens os que têm acesso a eles, como os dirigentes da associação. São deles também as bermudas mais vistosas (eles recebem uma ajuda de custo de R$ 150 mensais para se manterem na cidade).
Os adversários se encolhem, mas não recuam. Começa a votação, cargo por cargo. A ideia de usar cédulas de papel é abandonada, porque muitos não sabem ler nem escrever.
Opta-se pela formação de filas distintas para os eleitores de cada candidato à vaga de presidente, e assim por diante. Duas, três, quantas filas forem necessárias, saindo da maloca pelo terreiro, mato adentro, homens e mulheres não muito misturados. Pelo estatuto da Hutukara, todo ianomâmi com mais de 18 anos pode votar.
As filas se formam com rapidez. Co nsomem menos tempo para se materializar que a contagem de cada uma por dois "napë". Os índios aguardam a apuração de cada fila, até que se desfaça, com a mesma paciência com que acompanharam os debates por até 12 horas, a cada dia. Mesmo candidatos a presidente se encaminham disciplinados para as fileiras.
É a festa da democracia, estilo ianomâmi. Com a participação dedicada de cerca de 600 índios (as cozinheiras falam em mais de mil, com a responsabilidade de preparar 110 kg de arroz e 20 kg de feijão por dia).
Muitos vieram de perto, a algumas horas ou dias de caminhada, mas convidados de aldeias a centenas de quilômetros, inclusive da Venezuela, chegaram de avião na pista de grama vizinha, a R$ 1.100 a hora de voo.
Uma festa de R$ 232 mil, bancados pela Hutukara com doações de financiadores. O principal é a Regnskogfondet (Fundação Floresta Pluvial), da Noruega, que comparece com R$ 287 mil anuais. Mas o encontro teve apoio extra de sete entidades, entre elas a Fundação Nacional do Índio (Funai), que pagou 50 horas de voo.
EDUCAÇÃO Na pauta da Quarta Assembleia da Hutukara Associação Yanomami, o dia 3 de novembro, uma quarta-feira, está reservado para o tema educação. Na berlinda se acha Alda Regina Amorim Franco, secretária-adjunta de Educação do governo de Roraima, um Estado pouco dado a políticas em favor dos índios (a praça central da capital, Boa Vista, conhecida como "Bola", ostenta a gigantesca estátua de um garimpeiro).
Dário, filho de Kopenawa, ouve as explicações burocráticas da secretária-adjunta sobre as deficientes escolas nas aldeias. Toma então a palavra e, sem que ninguém entenda de imediato, começa a chamar para o centro da maloca representantes das 53 comunidades presentes. Pede que se organizem em duas filas, uma dos que têm escola na aldeia (35 se movem para ela) e outra dos que não têm (18). Por fim, dirige-se só aos 35 privilegiados e pergunt a: Chegou material escolar? Merenda? Carteiras, lousas, armários?
Todas as perguntas recebem um "não" uníssono como resposta. O desconforto das autoridades é visível. Os índios querem respostas, compromissos, prazos, explicações. Em meio aos discursos em línguas ianomâmis, pipocam vocábulos em português: "corrupção", "manipulação". As representantes da secretaria enrolam justificativas, como período eleitoral, ou dificuldade de levar cargas pesadas de móveis e livros, em avião, até as aldeias.
Aproxima-se a hora limite, 16h30, para a decolagem do avião que levaria as autoridades estaduais de volta a Boa Vista. A subsecretária parece aliviada com a partida iminente. Os ianomâmis recebem então a contribuição inesperada do piloto da empresa de táxi aéreo.
A notícia chega primeiro para Davi Kopenawa, que pede o microfone a Dário e anuncia: o piloto sumiu. Ou melhor, decolou. Diz, com ar divertido e sob risadas dos liderados, que vai providenciar uma rede e uma camiseta da Hutukara para cada uma das funcionárias da Secretaria de Educação: "Vocês estão na sua casa. Avião foi embora. Não estou brincando, não".
A sessão de reclamações e queixas prossegue até 17h40, para ser retomada na manhã seguinte. O calor é infernal. Quem não tem o privilégio, como a secretária-adjunta retida, de tomar banho e usar os vasos sanitários do posto de saúde, única construção de alvenaria em Toototobi, se vale do rio, onde também se lavam louças e peixes, e das muitas trilhas ao redor da maloca.
ELOQUÊNCIA Dormir na companhia de 600 ianomâmis pode ser revelador. Em quase todas as noites, o visitante será despertado, por volta das 4h30, por discursos numa das quatro línguas ianomâmi (yanomae, yanomamö, ninam e sanumá). Até palmas se fazem ouvir, das redes armadas sob a maloca onde acontecem as discussões. Marcos de Oliveira explica que são falas de líderes reconhecidos mais pela eloquência do que pelo mando, homens mais velhos que discorrem sobre o momento vivido pela comunidade e serviços que precisam ser realizados.
Toototobi, no entanto, é uma aldeia antiga. Quase ninguém mora ali -a casa coletiva ("xapono") mais próxima, Lasasi, no tradicional formato de anel, fica a uma hora e meia de caminhada. Aos poucos, o "napë" se dá conta de que os improvisos da madrugada tratam da própria assembleia. Não são discursos para parentes e membros da aldeia de origem, mas para o coletivo ianomâmi. Os índios fazem política dia e noite, sem descanso.
Isso fica mais claro na madrugada de sexta-feira. Ainda na quinta, depois do jantar, xamãs de algumas comunidades apresentam danças em que recebem os "xapiri", espíritos com que só eles se comunicam. No transe induzido por "yekuana" (pó de casca da árvore virola e outros ingredientes) soprado em suas narinas, negociam reforços de outras camadas do mundo para enfrentar os males que afl igem os ianomâmis nesta terra ("hutukara"), surgida com a primeira queda do céu.
A duração da dança de cada xamã, porém, foi limitada a 15 minutos e cronometrada pelos jovens diretores da associação Hutukara. Pajés célebres, como Levi, da região de Demini, se recusam a seguir a regra e deixam de se apresentar. Na madrugada, ouve-se a voz forte de Levi, em discurso de protesto. Líderes de outras comunidades veiculam boatos sobre Davi Kopenawa, que dorme longe da grande maloca, e as supostas vantagens - dinheiro, viagens, computadores - que reserva para seu grupo, entre eles o filho Dário.
FOFOCAS O falatório noturno chega ao conhecimento de Kopenawa antes que os "napë" encontrem alguém para traduzir seu conteúdo. Às 8h30 de sexta, o presidente da Hutukara suspende a pauta prevista -prestação de contas pelos diretores Dário, Mozarildo, Alfredo, Marinaldo e Rogel- e convoca uma extraordinária "pata thë ã", conversa de velho, ou conversa de h omem. Chama pelo nome representantes de comunidades Ajuricaba e Aracá para que venham à maloca repetir as "fofocas".
Antes de passar a palavra, contudo, Kopenawa critica os jovens da Hutukara por enquadrar a apresentação dos xamãs, homens habilitados a transitar entre as camadas do mundo que a tradição tupi consagrou com a denominação de "pajés". Kopenawa controla de perto setores nevrálgicos, como a distribuição de comida, mas deixa a burocracia da pauta em plenário a cargo de seus seguidores mais jovens, intervindo só quando o caldo político ameaça entornar. Ele próprio um xamã, explica que carrega Levi em suas viagens porque se sente mais forte na sua companhia. Nega que esteja explorando o colega e que tenha recebido dinheiro em viagens que fizeram para auxiliar na montagem de uma ópera sobre a Amazônia na Alemanha.
Antônio, de Ajuricaba, fala então de computadores que só vão para algumas aldeias, não a sua. Mas se declara feliz, "na frente de todos os napë", pela assembleia da Hutukara, que acompanha pela primeira vez. Morais, de Aracá, desconversa: afirma que nunca fez fofocas sobre xamãs. Ninguém pede desculpas, só "explicações".
Diretores da Hutukara explicitam os critérios para escolher as comunidades que receberão equipamentos multimídia do Ministério da Cultura, parte do projeto Pontos de Cultura, para registro de rituais e produção de novos conteúdos. Um cunhado de Kopenawa diz que é tudo culpa de um missionário, que anda falando mal dele. O próprio Levi se queixa só do tratamento dado aos xamãs, não tendo dúvidas sobre o caráter de Kopenawa. Às 10h, toda a roupa suja está lavada.
Seguem-se cinco apresentações xamânicas, desta vez com tempo livre. Duram até depois do meio-dia, uma média de 25 minutos por performance. A última, a cargo do concorrido Levi, se dedica a tratar as pernas da fotógrafa Claudia Andujar, 79, que sofreram quatro cirurgias desde s ua última visita aos amigos ianomâmis, 11 anos atrás.
CASAMENTO Sábado, em Toototobi, o dia foi dedicado à saúde, segundo ponto de atritos constantes entre indígenas e o Estado dos brancos (o terceiro é a proteção da terra indígena). O cirurgião Antônio Alves, titular da recém-criada Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) na cúpula do Ministério da Saúde, é recebido com pompa. Índias o cercam, pintam seu rosto, tiram a camisa, colocam-lhe nos braços adereços com longas penas vermelhas de arara, usados pelos xamãs e líderes. Davi Kopenawa diz que a nova aliança constitui "um casamento".
O tratamento cerimonioso contrasta com o que havia sido reservado a Gonçalo Teixeira dos Santos, administrador da Funai em Roraima. Sintonizado com políticos de peso no Estado, como o senador Romero Jucá (PMDB), Santos passou pela assembleia, mas deixou Toototobi antes da quinta-feira, para quando a pauta previa debates sobre proteção contra in vasores (garimpeiros, fazendeiros e pescadores). Vale dizer, cobranças ácidas sobre a inoperância da Funai no Estado. Foi, por isso, qualificado de covarde: "A Funai é como um pai que não defende o filho da onça", disparou Dário.
Fora a administração em Roraima, a Funai é bem-vista. Acaba de criar uma frente de proteção ambiental específica para ianomâmis e índios isolados da região. Comandado direto de Brasília, o grupo interventor foi entregue a José Carlos Meirelles, sertanista de reputação construída em 35 anos de dedicação para manter isolados os índios isolados do Acre.
Tática similar, mas de maior alcance, foi adotada pelo governo federal no terreno da saúde. Incapaz de fazer funcionar bem o atendimento a indígenas pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa), criou a Sesai e a subordinou diretamente ao ministro da Saúde. Segundo Kopenawa, a seu pedido.
Alves entra com gosto no casamento ianomâmi. Veste de volta a própria camisa, mas não tira os adereços do braço. Ouve Kopenawa falar das "cagadas" da Funasa, cujos quadros a Sesai herdou, e pedir a exoneração do responsável pela saúde indígena em Roraima, Marcelo Lopes. Retribui dizendo, no discurso de despedida, que agora fala sério, na condição de homem casado, e ouve risadas. Mas Alves não se compromete com nada, no discurso final. E sofre novo assédio no caminho para a pista de pouso: não adianta brigar com "napë", mas, no manual da política ianomâmi, insistir e persistir são armas lícitas.
NOITE DE FESTA Dário ainda tem algo a aprender com o pai e com o que este assimilou dos "napë". O rapaz parece um dos mais nervosos com os questionamentos e a concorrência política. Seu estilo de intimidação dos adversários soa direto demais, sem a verve criativa que demonstrara quatro dias antes, ao separar representantes de aldeias com e sem escola para constranger a secretária-adjunta de Educação de Roraima. Referi ndo-se à incompetência da Funai para barrar os garimpeiros e fazendeiros, que, na sua visão, os adversários eleitorais não terão coragem de enfrentar, ele dispara: "Sem a Hutukara, vocês vão morrer. Vão morrer mesmo".
Ao pé da letra, ele provavelmente está certo: sem organização própria, os ianomâmis permanecerão mudos diante do Estado brasileiro, incapazes de apresentar suas demandas básicas: educação, saúde e segurança fundiária. O erro juvenil de Dário é acreditar que a associação desaparecerá sem a liderança atual.
Seu pai seguramente já se deu conta de que o surgimento de candidaturas avulsas sugere que o controle da democracia ianomâmi não é privilégio do grupo que a pôs em marcha como alternativa ao confronto que acaba em extermínio. Hoje, para os ianomâmis, política é a continuação da guerra por outros meios, entre aldeias ou perante os "napë".
Ao final da contagem das filas, Kopenawa derrota Gilberto por 210 vo tos a 114. Ele ainda é o cara, o "pata". Com escores mais apertados, Dário e os outros rapazes vão se reelegendo. A votação se encerra às 17h55, mas a fila para assinar o livro prossegue até depois das 21h. Kopenawa discursa em yanomae, sua língua, e ninguém providencia tradução para os "napë".
Começam os cantos e danças que atravessarão a noite. A ágora ianomâmi só se esvazia e retorna ao silêncio após as 4h30, já na madrugada de 8 de novembro. A meia dúzia de lâmpadas fluorescentes da maloca se apaga assim que o gerador é desligado. A mando de David Kopenawa, decerto. Segunda-feira é dia de branco.

Nota
O repórter especial Marcelo Leite viajou de Boa Vista (RR) a Toototobi (AM) a convite da Hutukara Associação Yanomami.

A festa da democracia, estilo ianomâmi, mobiliza cerca de 600 índios vindos a pé ou de avião, ao custo de R$ 232 mil pagos por financiadores como a Fundação Floresta Pl uvial, da Noruega

Davi Kopenawa controla de perto setores nevrálgicos da assembleia, como a distribuição de comida, mas deixa o plenário a cargo dos mais jovens, intervindo só quando o caldo ameaça entornar

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

ÍNDIO CONTEMPORÂNEO


(publicado in Revista Fusão Cultural – Piracicaba, SP, ed. 02, ano 01, abril de 2010, p.50)



Por Sunamita Oliveira

Índios - 510 anos de resistência!


Disse certa vez à um amigo que “aceito o fato de algumas pessoas não acreditarem que o homem foi à lua, todavia, considero criminoso aquele que nega o massacre dos povos indígenas”.Essa história é conhecida por boa parte dos brasileiros, a despeito dos malefícios impostos aos indígenas, do período da colonização até os dias de hoje.
Em todo país, a mídia tem divulgado, mesmo que de forma “tímida” e sucinta, as batalhas que tem sido travadas entre os povos indígenas e os fazendeiros invasores de suas terras, grileiros, posseiros, arrozeiros e políticos truculentos, no que concerne ao reconhecimento das terras, legitimamente indígenas desde a sua existência!
Todavia, em meio aos conflitos, se sobrepõe a força, a organização, a determinação e resistência de povos, alguns até considerados extintos ou até mesmo, confundidos com a massa da população não-índia de algumas localidades, tendo seus direitos renegados, como aconteceu com a Nação Xukuru do Ororubá, aqui em Pernambuco, e que conseguiu de forma surpreendente retomar sua terra e o direito de vivenciar plenamente sua cultura, como o Toré, antes proibido, considerado uma prática maléfica, e hoje servem de exemplo para diversas outras etnias, no quesito organização.
Uma grande conquista desta década para a questão indígena no Brasil, sem dúvida, foi a reelaboração da Lei 11.639/03, com novo texto para a Lei 11.645/08, que torna obrigatório também o ensino da história e cultura indígena em todas as escolas do país, além da cultura afro-brasileira e, “embora careça de maiores definições, objetiva a superação dessa lacuna na formação escolar. Contribuindo para o reconhecimento e a inclusão das diferenças étnicas dos povos indígenas, para se repensar em um novo desenho do Brasil em sua diversidade e da pluralidade culturais”, como dito pelo Prof. Edson Hely Silva, pesquisador da UFRPE.

Alguns julgam a lei desnecessária, ou de difícil aplicabilidade, no entanto, já temos noticias de diversas escolas que, não apenas implementaram em sua grade curricular esta disciplina, como estão proporcionando diversos momentos de interação e aprendizagem entre os alunos e os povos indígenas de seus estados, sem que essa presença dos indígenas nas escolas adquira caráter folclórico, o que já podemos contar como ponto positivo, embora, é claro, tenhamos consciência de que este é apenas um pequeno passo no longo percurso que precisa ser trilhado.
É inegável que a falta de informação conduz ao desrespeito e posterior discriminação para com os povos indígenas. O desconhecimento, é responsável por atitudes preconceituosas, como por exemplo, quando informei aos pais de meus alunos que iríamos visitar uma aldeia indígena ano passado. Alguns retrucaram que seria perigoso. Felizmente, a educação tem o poder de transformar vidas, em todos os segmentos e classes sociais. Realizamos a atividade, e nossos alunos esclareceram os pais acerca do que viram e ouviram.
Essas visões deturpadas sobre os índios vêm mudando nos últimos anos. E essa mudança ocorre em razão da visibilidade política conquistada pelos próprios índios, isso, desde a elaboração da Constituição de 1988, vigente no país, que contou com a participação de diversas lideranças indígenas do Brasil, e além de garantir o inicio da demarcação de suas terras, direito a saúde e educação diferenciadas, contribuiu para que o Brasil redescobrisse os nativos – índios.
Especialmente através da internet, e veículos de comunicação, “nossos índios” estão conhecendo objetos que facilitam algumas tarefas do dia-a-dia, como os transportes, além de vestuários da moda, alimentação variada, no entanto, cabe ressaltar que, sua identidade se sobrepõe aos atrativos da “civilização”. Como todos os seres humanos, eles tem direito a fazer suas escolhas, mantendo-se fiéis as suas raízes e história, construída ao longo de milhares de anos.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A HIPOCRISIA QUE MATA! ATÉ QUANDO?!



O que você faz quando conhece alguém que tem costumes, ideias, cor, enfim,: tudo diferente de você? Demonstra respeito por essa pessoa, tratando-a da mesma forma que gostaria de ser tratado? Então, parabéns! Mesmo sem saber, você já está ajudando a fazer deste planeta um lugar melhor para todos! Mas, infelizmente, a maioria da população mundial não pensa assim.
Ainda há muita gente por aí que não respeita o próximo e trata todos os que são diferentes com intolerância e desprezo. Esse tipo de comportamento foi e continua sendo responsável por grandes tragédias, como a que afeta as crianças tibetanas. Elas têm sua segurança e liberdade ameaçadas em seu próprio país, sendo obrigadas a deixá-lo.
Os pequeninos enfrentam um problema muito parecido com o das crianças indígenas no Brasil. Os povos indígenas, que já estavam aqui muito antes da chegada do homem branco, há mais de 500 anos, vêm sendo tratados como animais, são expulsos de suas terras e dizimados por conflitos e doenças. Estima-se que havia, em 1500, 4 milhões de índios no território que se tornou o Brasil. Hoje, há menos de um quarto desse número. Por quê?

Quantos indígenas existem no Brasil?
Blog de historiasdasaldeias : HISTÓRIAS DAS ALDEIAS, A HIPOCRISIA QUE MATA! ATÉ QUANDO?
Fontes: Instituto Socioambiental / IBGE - Censo 2000

• Mais de 80 etnias foram extintas;
• Na década de 1990, a população indígena cresceu quase seis vezes mais que a população brasileira em geral. Mas, segundo o IBGE, isso não indica necessariamente que os índios estejam vivendo mais e melhor. O aumento pode ter ocorrido por causa da migração de povos de outros países ou pelo fato de os índios, que antes tinham medo ou vergonha de assumir sua etnia, terem passado a valorizá-la;

• A Funai, ao contrário do que diz o censo do IBGE (de onde saíram os dados acima), afirma que há 400 mil indígenas no Brasil. Para Maria Izaura Vieira, que trabalha como enfermeira em tribos de índios e é integrante do Conselho Indigenista Missionário — CIMI —, essa diferença de números pode estar ligada a um problema que ela conheceu no Mato Grosso do Sul (MS): a falta do registro de crianças pela Funai. “Há milhares de seres ‘inexistentes’ naquele estado! Há crianças que não podem freqüentar a escola porque não foram registradas. Só que a Funai tem postos em praticamente todas as aldeias. Até hoje, não consigo entender por que isso acontece”, denuncia.
ENQUANTO DISCUTIMOS ESTUPIDAMENTE QUAIS DIREITOS DEVEMOS CONCEDER AOS INDÍGENAS, TAL QUAL FOI  FEITO EM UMA REPORTAGEM DA REDE RECORD NO ÚLTIMO DOMINGO (07.11.2010), ACERCA DE UM SUPOSTO INFANTÍCIO EM ALDEIAS INDÍGENAS BRASILEIRAS, DEIXAMOS NOSSOS PROBLEMAS SEM SOLUÇÃO, COMO OS CASOS DE ABANDONO DE NOSSAS CRIANÇAS EM ESGOTOS, LIXÕES, ORFANATOS E OUTROS LUGARES INUSITADOS (ALÉM DE INESCRUPULOSOS).
CONSIDERO HIPÓCRITA E DESCABIDO INTERVIRMOS NA CULTURA DE UM POVO QUE VIVEU MILHARES DE ANOS, DE FORMA HARMÔNICA E EQUILIBRADA SEM NECESSITAR DE NOSSOS "CONSELHOS" E "BOAS INTENÇÕES", DE NOSSOS DISCURSOS LEVIANOS DE RESPEITO A VIDA E DIREITOS HUMANOS.
ARROTAMOS NOSSO APOIO ÀS CRIANÇAS DA ÁFRICA E DE OUTRAS PARTES DO MUNDO, ENQUANTO AQUI, DEBAIXO DO NOSSO NARIZ, NOSSOS IRMÃOS (INCLUSIVE DE SANGUE), DOS QUAIS SOMOS DESCENDENTES DIRETOS, MORREM DE FOME, DE DESNUTRIÇÃO E SÃO ASSASSINOS BRUTALMENTE POR TEREM SIDO ROUBADO-LHES TODOS OS DIREITOS. PARA QUEM ANTES VIVIA COMO LATIFUNDIÁRIO, SEM A VISÃO CAPITALISTA MODERNA, HOJE É SEM-TERRA, SEM-TETO, SEM-COMIDA, SEM-RESPEITO, SEM-DIGNIDADE E SEM-VIDA.
PARA QUEM FICOU CHOCADO COM A REPORTAGEM SENSACIONALISTA E DESCABIDA DA REDE RECORD, FITEM COM ATENÇÃO ESTAS IMAGENS ABAIXO. ELAS NÃO SÃO DE OUTRO PAÍS. ESTÃO ACONTECENDO TODOS OS DIAS, BEM AQUI, DO SEU LADO. SE VOCÊ AS CONSIDERAR CHOCANTES, ÓTIMO, ATINGIMOS NOSSO OBJETIVO!
ATÉ QUANDO VOCÊ VAI CONTINUAR FINGINDO QUE NÃO TEM NADA COM ISSO? ENQUANTO FORMOS HIPÓCRITAS PARA NOS CONSTRANGERMOS COM AS POSIÇÕES  RADICAIS E TENDENCIOSAS DE ALGUNS RELIGIOSOS, QUE DE FATO SÓ ESTÃO BUSCANDO GANHAR TERRENO (LITERALMENTE) DENTRO DAS INDÍGENAS, O GENOCÍDIO DESTES POVOS CONTINUARÁ DE FORMA ASSUSTADORA, ATÉ QUE O SANGUE DE UM DELES SEJA DERRAMADO EM SUA PRÓPRIA PORTA!!

O abandono de crianças nos orfanatos é um tragédia de igual proporção. A princípio, a institucionalização foi criada com o objetivo de "proteger a infância", mas o que tal medida consegue de fato é somente a segregação/exclusão de "produtos sociais indesejáveis. Estimativas não oficiais indicam que cerca de um milhão de crianças estão sendo atendidas por instituições, eufemisticamente chamadas de Unidades de Abrigo, sendo a maioria mantida por entidades religiosas. Na primeira pesquisa (Weber e Kossobudzki, 1996) realizada com a totalidade das crianças e adolescentes de um Estado do país (Paraná) os dados revelaram que a maioria absoluta dos internos (64%) têm entre 7 e 17 anos e o que menos há nesses orfanatos são crianças órfãs. Somente 5% são órfãs bilaterais e somente 14% das crianças vieram de um lar onde o pai e a mãe estavam vivendo juntos. O restante dos internos provém de famílias monoparentais, chefiadas por mulheres (a maior parte foi abandonada pelo marido e outra parte refere-se à mães solteiras). Assim como na história de João e Maria, a crise do abandono nos orfanatos é desencadeada, primordialmente por "falta de recursos financeiros". Assim como no conto de fadas existe a bela casa da bruxa, na vida real as crianças vão para instituições e recebem cama e comida. No caso da história infantil, a bruxa quer devorar as crianças. No caso da realidade, a própria vida encarrega-se disso.

MEU DIREITO TERMINA, QUANDO COMEÇA O DO OUTRO!!


 
Escravos, em muitos canaviais ou desenvolvendo subempregos.

De donos das terras, de todo território conhecido como Pindorama por milhares de anos,à sem-terra e sem-teto.

Indígena da etnia Guarani assassinado em luta pela terra: GENOCÍDIO É FATO DIÁRIO!

SE VOCÊ FICOU CHOCADO, ESPECIALMENTE COM ESTA IMAGEM, SIGNIFICA QUE CONSEGUI CUMPRIR COM A PRIMEIRA ETAPA DE MINHA MISSÃO: SENSIBILIZAR-TE!!