(publicado in Revista Fusão Cultural – Piracicaba, SP, ed. 02, ano 01, abril de 2010, p.50)
Por Sunamita Oliveira
Índios - 510 anos de resistência!
Disse certa vez à um amigo que “aceito o fato de algumas pessoas não acreditarem que o homem foi à lua, todavia, considero criminoso aquele que nega o massacre dos povos indígenas”.Essa história é conhecida por boa parte dos brasileiros, a despeito dos malefícios impostos aos indígenas, do período da colonização até os dias de hoje.
Em todo país, a mídia tem divulgado, mesmo que de forma “tímida” e sucinta, as batalhas que tem sido travadas entre os povos indígenas e os fazendeiros invasores de suas terras, grileiros, posseiros, arrozeiros e políticos truculentos, no que concerne ao reconhecimento das terras, legitimamente indígenas desde a sua existência!
Todavia, em meio aos conflitos, se sobrepõe a força, a organização, a determinação e resistência de povos, alguns até considerados extintos ou até mesmo, confundidos com a massa da população não-índia de algumas localidades, tendo seus direitos renegados, como aconteceu com a Nação Xukuru do Ororubá, aqui em Pernambuco, e que conseguiu de forma surpreendente retomar sua terra e o direito de vivenciar plenamente sua cultura, como o Toré, antes proibido, considerado uma prática maléfica, e hoje servem de exemplo para diversas outras etnias, no quesito organização.
Uma grande conquista desta década para a questão indígena no Brasil, sem dúvida, foi a reelaboração da Lei 11.639/03, com novo texto para a Lei 11.645/08, que torna obrigatório também o ensino da história e cultura indígena em todas as escolas do país, além da cultura afro-brasileira e, “embora careça de maiores definições, objetiva a superação dessa lacuna na formação escolar. Contribuindo para o reconhecimento e a inclusão das diferenças étnicas dos povos indígenas, para se repensar em um novo desenho do Brasil em sua diversidade e da pluralidade culturais”, como dito pelo Prof. Edson Hely Silva, pesquisador da UFRPE.
Alguns julgam a lei desnecessária, ou de difícil aplicabilidade, no entanto, já temos noticias de diversas escolas que, não apenas implementaram em sua grade curricular esta disciplina, como estão proporcionando diversos momentos de interação e aprendizagem entre os alunos e os povos indígenas de seus estados, sem que essa presença dos indígenas nas escolas adquira caráter folclórico, o que já podemos contar como ponto positivo, embora, é claro, tenhamos consciência de que este é apenas um pequeno passo no longo percurso que precisa ser trilhado.
É inegável que a falta de informação conduz ao desrespeito e posterior discriminação para com os povos indígenas. O desconhecimento, é responsável por atitudes preconceituosas, como por exemplo, quando informei aos pais de meus alunos que iríamos visitar uma aldeia indígena ano passado. Alguns retrucaram que seria perigoso. Felizmente, a educação tem o poder de transformar vidas, em todos os segmentos e classes sociais. Realizamos a atividade, e nossos alunos esclareceram os pais acerca do que viram e ouviram.
Essas visões deturpadas sobre os índios vêm mudando nos últimos anos. E essa mudança ocorre em razão da visibilidade política conquistada pelos próprios índios, isso, desde a elaboração da Constituição de 1988, vigente no país, que contou com a participação de diversas lideranças indígenas do Brasil, e além de garantir o inicio da demarcação de suas terras, direito a saúde e educação diferenciadas, contribuiu para que o Brasil redescobrisse os nativos – índios.
Especialmente através da internet, e veículos de comunicação, “nossos índios” estão conhecendo objetos que facilitam algumas tarefas do dia-a-dia, como os transportes, além de vestuários da moda, alimentação variada, no entanto, cabe ressaltar que, sua identidade se sobrepõe aos atrativos da “civilização”. Como todos os seres humanos, eles tem direito a fazer suas escolhas, mantendo-se fiéis as suas raízes e história, construída ao longo de milhares de anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário